sexta-feira, 16 de março de 2012

Venezuela: cinco dias na linha de fogo

Entre os dias 9 e 14 de março, estive na Venezuela convidado pelo Banco Central para lançar a co-edição feita por esta entidade e a Biblioteca Ayacucho de meu livro Imperialismo e Dependência, editado originalmente em 1978 pela Editorial Era, do México. Esse livro foi objeto de debate muito amplo e foi editado em japonês (em 1983) e posteriormente na China (em 1992, pela Academia de Ciências Sociais e reeditado em 2000 e 2005). A cuidadosa edição venezuelana tem um prólogo de Carlos Eduardo Martins que discute a atualidade do livro que fez parte de uma nova coleção dos clássicos que compõem a Biblioteca Ayacucho, intitulada Chaves Políticas da América, "que tem por propósito mostrar o mais significativo da história dos movimentos e processos políticos ocorridos no nosso continente. Aborda sua matéria a partir das lideranças históricas dos nomes e movimentos coletivos em torno aos quais se forjaram processo importantes em seus países de origem, mas que devem ser entendidos como conjunto dentro da história política e social latino-americana e caribenha".







No dia 10 de março inauguramos a sala Horácio Quiroga, da VIII Feira Internacional do Livro da Venezuela. Fizemos uma apresentação do livro supracitado com debate, sobretudo sobre a vigência das teses nele defendidas. No dia 13, fizemos uma sessão de autógrafos desse mesmo livro e da obra Do Terror à Esperança: auge e decadência do neoliberalismo, editado originalmente no Brasil pela Idéias&Letras em 2004, e em espanhol em co-edição entre o Banco Central da Venezuela (BCV) e a Editora Monte Ávila. Nesta oportunidade se lançou a reedição do livro. A primeira edição contava com um prólogo de Domingo F. Maza  Zavala, antigo diretor do Banco Central, grande economista venezuelano recém-falecido. A edição chinesa acaba de sair em Pequim pela Editora da Academia de Ciências Sociais chinesa.







Chama a atenção o fato de que os principais jornais venezuelanos, propriedade da oligarquia oposta ao governo de Chávez (El Nacional e El Universal) ignoraram sumariamente essa feira, que contava com 267 editoras e um público de cerca de 250 mil visitantes (até o seu terceiro dia). Isto nos mostra a violência e a falta de qualquer ética jornalista da oposição venezuelana. É incrível que junto com eles toda a chamada grande imprensa da América Latina ignorou totalmente a feira. Como se vê não somente gozam da mais extrema liberdade de imprensa na Venezuela como se dão ao luxo de esconder totalmente a realidade do país. Esta imprensa está voltada exclusivamente para desenvolver uma campanha de boatos sobre a saúde do presidente Hugo Chávez. Tivemos, contudo, publicado um anúncio de nossa participação na Feira, feito pelo BCV no Últimas Notícias, que mantém uma linha independente capaz de saber que existe uma feira do livro de grandes proporções.




Sobre a saúde de Chávez podemos dizer que assistimos na televisão estatal, já que a privada ignora, a reunião em Havana do ministério da República Bolivariana da Venezuela com o seu presidente. Nesta oportunidade, além de demonstrar excelente saúde, durante as cinco horas sucessivas de programa mostraram-se várias reportagens ao vivo sobre a inauguração de um hospital regional de alta tecnologia chinesa que faz parte dos 21 convênios estabelecidos entre Venezuela e China, nos quais se estabelece a troca de petróleo venezuelano por maquinários de alta tecnologia para a instalação de serviços e empresas venezuelanas. Isto nos faz pensar como se desperdiça grandes possibilidades de intercâmbio comercial com a China quando ao invés de submeter esse intercâmbio a objetivos estratégicos de nossos países se deixam os mesmos ao sabor de um mercado "consumidor de quinquilharias". E, ainda por cima, critica os resultados desse enfoque neoliberal.
Na feira do livro visitamos particularmente os estandes da Biblioteca Ayacucho, cuja sala mais interessante é a que corresponde ao livro virtual. A versão digital da maioria das obras se encontra na Biblioteca Ayacucho Digital. É muito surpreendente também o projeto desenvolvido com o Ministério de Educação que distribuiu cerca de um milhão de computadores simples para os estudantes de secundário, cujo conteúdo pedagógico foi organizado por essa biblioteca. Ressalto também a criativa sala especial dedicada ao mangá venezuelano. Aí se organizaram aulas e oficinas para o ensino do estilo japonês de quadrinhos (mangá). Numa outra sala apresenta a Biblioteca Ayacucho os ganhadores do prêmio à confecção de clássicos latino-americanos apresentados como histórias em quadrinhos. Esta preocupação com a ampla divulgação dos clássicos latino-americanos está no coração mesmo da revolução bolivariana. Contudo, a editora da presidência da república publicou um milhão de exemplares do Dom Quixote de Cervantes e outro milhão dos Miseráveis de Victor Hugo. As editoras da presidência e a editora El Perro y la Rana vem publicando textos que são distribuídos diretamente nas bibliotecas comunitárias. O meu livro Conceito de Classes Sociais foi editado em 60 mil exemplares. Segundo se calcula a Venezuela é hoje um dos países de mais alto nível de leitura no mundo.
Um exemplo dessa política é a edição do meu livro Bendita Crisis! - socialismo y democracia en el Chile de Allende, que é vendido por dois bolivares, isto é, por menos de um dólar.






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